Grandes dias, pequenas existências
sábado, maio 28, 2005
  Bobby Long was just waiting for a love song
"Hapiness gives us in height what it doesn't give us in lenght". Traduzido à letra será qualquer coisa como "a felicidade dá-nos em altura o que não nos dá em comprimento." De facto, não vivemos o suficiente para sentirmos a felicidade por completo. Ou se calhar isto são só palavras de quem perdeu por completo a esperança, ou de quem nunca a teve, de quem não sabe o que é a felicidade.
Pois eu sei que a esperança me inundou enquanto assistia ao cantar belíssimo de um coração que foi um solitário caçador, numa qualquer sala 7, descalça e absorta.
Há o correr-se um prado sem sapatos para se sentir a relva nos dedos dos pés e há o andar-se uma cidade inteira sem sapatos para iludir o corpo e enganar as dores. E há o vestir-se um fato a cheirar a mofo e chamar-se uma grande família de homens, que a são por escolha, para juntos fazerem 500 km a pé a fim de assistirem à graduação de uma filha que é a de todos eles. E a felicidade começa sem ser chamada.
Há uma simplicidade tocante na voz da (minha) Scarlett, e toda a história que a acompanha nesta viagem a New Orleans, e por arrasto ao Alabama. Há o sotaque de gente pura que não sabe como viver melhor, há as esperanças de quem faz o que não quer numa contínua busca de felicidade recíproca. Dou-te um pouco, dás-me um pouco. As gentes são absorvidas pelo que têm de conceder a outrem para receberem em troca. Dou-te um copo de sumo com gin e uma casa destas, com as minhas músicas inundada, e escreves um livro sobre mim. Este é o desespero de Bobby Long. Desesperadamente, sempre esta necessidade de arranjar um motivo para ultrapassar mais um dia de arrastamento e sangue e urina. E a morte vem destabilizar a inquietude deste sujeito. Não é agradável perder-se um ser esplenderoso, menos ainda um que nos encheu Secretamente o espírito de esperança. Queiramos ou não, a esperança morre com a morte. Um bocadinho mais a cada morte. Porque quando alguém morre, a esperança que morre é a da nossa vida com quem perdemos, não pela vida de quem se foi. Choramos por nós aquando da morte.. E invade-nos um medo destabilizador e inquietante que não nos deixa dormir durante a noite e nos impede de erguer a cabeça. Bobby Long sabe disso. Sabe que Lorraine era a sua esperança e que agora está morta. E sabe que a eterna produção do seu livro será para sempre isso mesmo.. eterna (passo as 101 redundâncias que consegui fazer numa mesma frase).
O que Bobby Long não sabia é que há sempre uma erva daninha (=Purslane) que nos enche o espírito... Até os clichés são incrivelmente brilhantes neste filme. O livro acaba produzido e fica a erva daninha de mãos dadas com a poesia...

Somos todos ervas daninhas...
Umas douradas chamadas Beldroegas, outras espirituosamente brancas chamadas Bobby e outras ... outras roxas, vermelhas ou sem cor alguma; muitas delas sem nome.
Pois que sejamos todos ervas daninhas... J.A.V.
 
Comments:
como me arrependo agora de não o ter visto contigo. well... bobby long was just waiting for a love song.
 
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Complexo e intangível,nervoso e irrequieto, intrincado e obnubilante, balbúrdico e heteróclito, marafado e perscrutante, mírifico e adstringente, contráctil e obstipante, cataclísmico e necrófilo, hemorrágico e micótico,extra-fofinho ou nada fofinho, observador e acutilante.. ou nem tanto... Truísmos (extra)ordinários (des)mistificados aqui partilhados.

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