A necessidade de um (milhão de) Moleskine
"Sempre precisou de um foco de concentração. Sabia que possuía demasiada energia e uma boa quantidade de talento indisciplinado, em bruto. Em quase todas as coisas da vida dela, precisava de um objectivo directo e unificado para andar rapidamente para a frente. De outra maneira, havia a possibilidade de andar para trás, para onde não queria ir. E isto transformava-a numa extremista melodramática. Não se conseguia moderar, era-lhe difícil pôr travões. E quando era forçada a acalmar-se, toda essa intensidade se abatia sobre ela e apetecia-lhe chorar. A sua energia esgotava-se, sentia vómitos, mais vontade de chorar, sentia que estava descontrolada e sem saber o que fazer.
A dada altura a sua vida refizera-se. E desde então havia quebras. Movia-se rapidamente numa torrente de actividade, mas de vez em quando algo de inesperado abatia-a profundamente, deixando-a lenta e insegura. Desgastava-a. E ela não possuia a capacidade para se recompor..
Às vezes parecia uma criança. Estendia os braços ao poder, exigia-o. Mas quando a sua vontade prevalecia, encontrava-se apenas consigo própria, e isso aterrava-a.
Por isso precisou sempre de alguém que lhe assegurasse que o mundo não era um vazio, que não é preciso ter sempre o controlo ou a energia ou a capacidade de fazer tudo, sempre."
[Excerto do discurso "A Vida de Joana Viana, obstinadamente (des)controlada e (des)igual", 2090.]
Não iremos para nenhum lado conhecido, não teremos de dizer coisa nenhuma. (Beck) J.A.V.