Vontades irreprimíveis que atingem cabeças desprotegidas, em 30 minutos
Dói-me o coração. Para quem ignora, quando digo que me dói o coração não me refiro a qualquer devaneio da alma ou tristeza relacional. O meu coração dói de facto.
Os médicos chamam-lhe paragens cardíacas. Traduzido em português significará que o meu coração partilha do meu mau feitio. Quando lhe apetece bater devagar leva-me à exaustão inesperada e o meu cérebro fica subitamente incapacitado de funcionar como deve ser; tudo fica branco, deixo de ouvir seja o que for que não o bater sussurrantemente estridente do coração e perco a noção da realidade. Quando lhe apetece bater furiosamente é um "desespero" diferente, com uma maior quantidade de desafio nele; é nessas alturas que não consigo respirar. E é por isso que é mais desesperante. Tudo está normal à minha volta. Vejo e ouço perfeitamente. Acontece sobretudo nas alturas em que estou a rir muito com alguém, no meio de muita gente a conversar ou simplesmente sentada concentrada em alguma coisa ou a dormir a meio da madrugada. E é essa a parte do desespero. São dores silenciosas que não se explicam, que chegam sem aviso prévio e que me deixam completamente desnorteada. E são duras de aguentar. Atingem-me assim, quando o meu coração se revolta, e não há protecção.
Tal como o meu coração, também há vontades que frequentemente me atingem e me fazem mover em determinada direcção, sem saber bem para onde ou porquê. Porque tal como o meu coração, também estas súbitas vontades chegam sem aviso, com mau génio e, acima de tudo, sem darem respostas. Porque estava simplesmente sentada à secretária do Miguel, a tentar arranjar vontade para estudar, e o desejo de aqui escrever sobre coisa nenhuma atingiu a minha cabeça desprotegida, inundou-me sem deixar espaço para mais nada.
E aqui estou, há 30 minutos certinhos, a tentar aliviar este desejo para enfim me dedicar à bela hegemonia inglesa do século XIX.
Como, embora mais calmo, o meu coração continua a fazer-se notar, fico-me por deixar outra frase para reflexão, interesse mínimo ou simplesmente desprezo. Para me certificar de que existo não apenas para estudar ou para sentir dores no coração, mas para dar resposta a estas
vontades irreprimíveis que atingem cabeças desprotegidas que nos fazem andar, seja lá para onde for que andamos.
Porque é assim que hoje me sinto; os autocolantes dos vidros dos carros podem ser bastante sábios:
O meu karma cilindrou o meu dogma.