Grandes dias, pequenas existências
domingo, julho 24, 2005
  Comptine d'un autre été: L'après midi
É de tarde que se descobrem as flores nos jardins. É de tarde? Os arums só abrem de noite...
Se calhar não é de tarde. Mas é de tarde que eu descubro a beleza indescritível de uma única pessoa. Foi nesta tarde que a (re)descobri como me apraz fazer todos os dias que estou com ela.
Chama-se Madalena. Quando a ouço sussurrar ao meu ouvido a "música da praia", a vejo agarrada à boneca das tranças ou a fazer contas de dividir, o significado multiplica-se. A pedir-me com os olhos para calçar mais uma vez todos os meus sapatos e a pôr os meus batons no bolso...
E todos os dias, quando a vejo partir, o meu coração despedaça-se um bocadinho mais e uma lágrima corre-me pela face.

A música infantil de um outro Verão afinal não é só de tarde que é ouvida. É a música de todos os Verões, os Verões da minha vida passados ao lado da esplêndida Madalena e a ouvi-la sussurar a "música da praia", a vê-la agarrada à boneca das tranças, a fazer contas de dividir; a aceder aos olhos e aos pés dela, a fingir mais uma vez que não vejo os batons caírem do vestido dela para o chão.
E todos os dias, vê-la partir, e chorar porque um dia o meu coração despedaçar-se-á por completo. Porque um dia uma pessoa grande em ponto pequeno vai fazer falta no mundo.

Gostava de conseguir explicar a mim mesma o porquê de chorar quando me despeço dela todos os dias. Mas todos os dias ela guarda a melhor frase das nossas existências conjuntas para a despedida. Hoje o sussurro pareceu: "Madrinha, este buraquinho aqui no meu dedo, estás a vê-lo? Foi na mesa da sala mas não dói porque eu posso só ter 17 kgs mas para o ano vou para a escola aprender a escrever para te escrever um poema. Gostas de poemas não gostas, madrinha?"

Abraça-me, pessoa perfeita. Ao fundo toca uma Comptine d'un autre été e Le Moulin e nós somos felizes neste segundo, não somos Madalena? Como te amo, pequena dos olhos grandes.
Até à próxima tarde. J.A.V.
 
Comments:
não menina. a tua madrinha não gosta nadinha de poemas. =)
 
Come chocolate. Depois descreve...
 
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Complexo e intangível,nervoso e irrequieto, intrincado e obnubilante, balbúrdico e heteróclito, marafado e perscrutante, mírifico e adstringente, contráctil e obstipante, cataclísmico e necrófilo, hemorrágico e micótico,extra-fofinho ou nada fofinho, observador e acutilante.. ou nem tanto... Truísmos (extra)ordinários (des)mistificados aqui partilhados.

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