Grandes dias, pequenas existências
sexta-feira, agosto 19, 2005
  Balança de paradoxos
Desde que, há cinco anos, nos mudámos para este apartamento, tudo o que é electrónico tem inevitavelmente o seu destino traçado, o mesmo peremptório e inquestionável destino: Pifar.(ponto)
Os canais da TV por cabo funcionam quando lhes apraz. O computador, aparte de já se ter avariado 5 vezes desde que o comprámos (e não, não foi uma vez por ano porque ele só veio uns tempos depois), sofre de uma doença que nenhum "doutor informático" consegue identificar ou tratar, doença essa que reduz a escala de infinitas possibilidades de cores proporcionadas pelos milhões de megapixeis que os livros de instruções asseguram a uma humilde paleta de 5 cores: branco, petro, cinzento, azul e amarelo. No entanto, pelo pouco que me lembro das aulas de Desenho, o branco, o preto e o cinzento não são considerados cores. Logo, a beleza das imagens cibernéticas e de todos os blogues que visito é dual: amarelo e/ou azul. O azul é o azul. O amarelo é tudo o resto que não for azul. Nem preto, nem branco, nem cinzento.
Isto alegra definitivamente o meu cérebro, que diariamente recebe os mesmo monótonos estímulos do meu sentido de Visão. Se eu fosse o meu cérebro, já tinha rebentado comigo próprio.
Para além disto, há ainda o leitor de dvd's que funciona dependendo da maneira que a antena for colada à parte de trás da televisão e ainda os discman's que devoram pilhas que é uma coisa estúpida e o congelador que, por ter deixado de funcionar a 50% há coisa de meses, foi substituído por uma arca frigorífica que está agora plantada por baixo da televisão e que, quando escutada em silêncio e de olhos fechados, faz lembrar o mar, qual búzio gigante e leitoso.

Ontem, enquanto vinha do cinema para casa pus-me a pensar nisto, à laia de não sei bem o quê, e inevitavelmente lembrei o dia que passara, o dia dos meus 18 anos por inteiro. Porque foi meio triste ter recebido sms's de duas máquinas que provavelmente também falham assim, sem razão, mas que ontem me desejaram "muitos parabéns" e "felicidades". Uma chama-se 4777 e assina «Equipa do site Fnac.pt». A outra chama-se 4901 e assina «Accessorize». Ambas foram simpáticas e agradeço aqui publicamente as mensagens de "Feliz Aniversário". De qualquer das maneiras-- e longe de mim desrespeitá-las--foi horrível constatar que aqueles lindos formulários que preenchemos, na maioria das vezes para nos vermos livres de gente chata ou para pesquisarmos mais a fundo alguma coisa num qualquer site, servem para, um dia por ano, recebermos uma mensagem estandardizada de Parabéns. A mim, pelo menos, causou-me engulhos.

Ainda assim, um postal veio equilibrar a coisa. Afinal, ontem a minha balança de paradoxos foi a Alice Vieira. E isto é já em si um paradoxo. Que entristece; mas que relaxa. J.A.V.
 
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