Grandes dias, pequenas existências
domingo, novembro 06, 2005
  Fiel?
Ontem fui ao cinema sozinha, coisa que muito me apraz (como deduziram os fiéis leitores desde a primeira crítica cinematográfica aqui postada).
Era já longo o desejo de ver "The Constant Gardener"; desde que ouvira falar do filme pela primeira vez, há coisa de meio ano, para ser honesta. E só é uma a razão porque não escrevi ontem este post : a reflexão. Merecida pelo aclamado realizador Fernando Meirelles (aos incautos, o realizador do aclamado "Cidade de Deus"), merecida pelo não-tão-aclamado-como-devia actor Ralph Fiennes.
Não foi, de todo, uma reflexão filosófica ou globalista como se esperaria, pois da realidade controversa e revoltante que se vive há longas décadas em territórios ricos de pessoas mas pobres de espíritos e de humanidade crua, tenho eu perfeita noção de há uns centímetros de "adulta à força" a esta parte. É antes, isso sim, uma reflexão um tanto sentimentalista e a dar para o profundo acerca de uma questão que me assaltou desde a primeira imagem que surgiu no ecrân gigante. E se a imagem deriva, em grande parte, do talento de Ralph que, em um minuto, conseguiu, sem emitir sons ou expressões faciais, demonstrar de uma maneira tão pura a dor da perda, ou dos dotes de manejar a câmara de Meirelles, a pequena parte que sobra vem do puro tormento que provoca a própria Perda, da que ao longo dos tempos se vai dividindo e multiplicando em perdas pequenas. E não sei se pela perda ou se pela acção de algo maior, "O Fiel Jardineiro" é uma prova irrefutável de que, sem cerimónias ou extravagâncias, um sorriso é sempre um sorriso e a inexistência de uma lágrima é a inexistência de uma lágrima. Puro e simples. Fora com as conotações e análises psico-sociológicas do pormenor X da atitude Y de fulano face a sicrano. Acho que no fundo o filme acaba por demonstrar o sentir despido de sentimentos. A necessidade inocente e inconsciente, assim fundamental e sem perguntas. A necessidade Fiel? A necessidade irresoluta, incessante. O jardineiro é incessante no sentir fundamental. E isso poderíamos deduzir sem sequer ver mais do que os cinco minutos iniciais do filme; bastava-nos a expressão de Fiennes quando lhe é dada a notícia de perda (e a de Weiss ao saber que as gentes do mundo, a sua necessidade fundamental e incessante, estão a ser mortas por dá cá aquela palha.) J.A.V.
 
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